domingo, 31 de maio de 2009

Índios de Rondônia viajam à Europa para conhecer acervo recolhido em suas aldeias

* Matéria publicada neste domingo pelo Diário da Amazônia
Autoria: Vanessa Farias

Sete índios dos povos Aruá, Jabutí, Kanoé, Makurap e Tuparí, que vivem nas terras indígenas de Rio Branco e Guaporé, em Rondônia, embarcam neste sábado para a Suíça, onde terão a oportunidade de mostrar a cultura de cada etnia e trocar conhecimentos com pesquisadores suíços. A viagem no valor de aproximadamente R$ 70 mil está sendo financiada pelos museus etnográficos de Basiléia, na Suíça, de Viena, na Áustria; de Berlim, na Alemanha e do museu de Leiden, na Holanda.

O intercâmbio é resultado de um projeto de recuperação de costumes indígenas realizado a longo prazo das duas terras indígenas. “Os museus possuem arquivos do ano de 1934, quando as pesquisas com esses povos começaram”, conta a fotógrafa e jornalista Gleice Mere que faz a intermediação há dois anos entre os índios e os pesquisadores suíços.

Anísio Aruá, José Anderê Makurap, Marlene Tupari, Dalton Tupari, Analícia Makurap, José Augusto Kanoé e Armando Jabuti estão ansiosos para conhecer os objetos e registros fotográficos de seus antecedentes que estão guardados nos museus. “Além de querer conhecer os parentes dos homens que nos ajudaram no passado fazendo esses registros e levando a nossa cultura para outro país, nós queremos ver as fotos dos nossos pais e avós, identificar o nosso passado”, diz Marlene Tupari.

O indígena José Anderê anseia por uma única expectativa. “Eu nem sei ler nem escrever, nem sei quantos anos de idade eu tenho, mas única coisa que quero é poder ver meus pais que eu não conheci. Tomara que tenha fotos deles por lá”, dispara. A filha, Analícia, estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental e acredita que a viagem servirá para ampliar seus conhecimentos. “Nós vamos trocar experiências com pessoas que vivem em um país de primeiro mundo, e isso pode ser muito bom para o nosso conhecimento de vida”, declara.

Cestos de olho de palha usados na aldeia para “guardar” as galinhas que vão chocar os ovos, roupas tradicionais, arcos e flechas são a contrapartida dos indígenas para os museus. “Eles precisam levar novos arquivos para o museu para enriquecer o material que já existe lá”, explica Gleice Mere.

Registros

Em 1934, o pesquisador suíço Emil-Heinrich Snethlage chegou à região do Guaporé, onde morou por seis meses coletando materiais para os museus, conhecendo os costumes dos povos e registrando a história das tribos da área. Em uma segunda viagem à região, Emil escreveu um diário de 1042 páginas que nunca foi publicado, gravou um filme mudo e sons de cânticos indígenas que são reconhecidos pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade.

“Essa viagem vai marcar a gente, com o que vamos poder ver de diferente no trabalho que nossos avós e pais faziam, as fotos, as músicas. Tudo vai ser importante para nós”, enfatizou José Augusto Kanoé. Para aqueles que nunca saíram do Estado, um medo que não é maior do que a vontade de viajar é revelado. “Eu nunca viajei de avião. Dá um medo de imaginar, mas eu vou conseguir”, diz Marlene Tupari.

Além de visitas aos cinco museus patrocinadores, está previsto também o encontro com as famílias dos pesquisadores que passaram pela região de Rio Branco e Guaporé, oficinas com crianças locais, apresentações de filmes sobre a Amazônia, dança e pintura indígena e o reconhecimento do acervo de objetos guardados nos museus. A chegada dos indígenas na Suíça está prevista para este domingo e o retorno da viagem será feito em 20 dias.

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